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Foto do escritorJuliana Tokita

Auto sabotagem

Atualizado: 6 de jul. de 2020

Dentro de cada um de nós existe um universo.

Um rico mico cosmo cheio de luz. Lá dentro existe um reservatório incrível de energia e força.

O que te faz ser tão especial, o que te diferencia dos outros, do que você gosta, suas qualidades, seu jeito de rir, seus defeitos... as coisa que você precisa melhorar, aquilo que ainda quer aprender.

Aquilo que você sabe fazer e faz bem.

As coisas que conquista facilmente, ou menos arduamente, de acordo com o aparato orgânico e emocional que foi sendo construído aí dentro (e fora).

Sua fonte de sabedoria. Seu repertório de dores e amores. As decepções e como reaprendemos a interagir com o mundo a partir delas...

É sobre isso que venho aqui dissertar hoje.

Vamos falar dos nossos fracassos?

Ou sobre nossos medos, ou sobre como fugimos de nós mesmos...

Vivemos, por vezes, nos enganando e fazendo de conta que está tudo bem.

Uns zumbis anestesiados.

E tome antidepressivos, e vai de endorfina – exercício físico libera hormônio do bem estar...

Você vai ser feliz quando casar-se; nada traz a felicidade como ter um bebê!

Não tem bebê? Nem marido?

Sem problemas, você pode encontrar a felicidade no trabalho!

Produza!

Leia.

Viaje.

Consuma.

Você viu a última temporada de “Dark”?

Ocupe-se.

Domingo é um tédio... nada pra fazer.

Não tenho tempo pra nada, gente! Minha agenda tá lotada.

Vamos repetindo essa busca inalcançável por um não sei o que e fugindo de nós mesmos.

Preenchemos cada vazio do nosso tempo e mente. Tudo ocupado. OVERLOAD.

- Tadinha, teve Burnout.

Byhung Chul-Han, nos chama de “zumbis saudáveis” em “A Sociedade do Cansaço”.

Achamos que somos livres para escolher nosso modo de viver, mas somos, na verdade escravos de um sistema que quer vender o ideal de felicidade e nos afasta de quem realmente somos.

Somos reflexos da sociedade do desempenho.

Precisamos produzir a todo tempo e o agravante, aqui, é que hoje somos os explorados AND os exploradores. “a gente faz violência a si mesmo e explora a si mesmo”.

Como?

Fugindo de estar conosco e nos ocupando cada vez mais. E assim vamos vivendo.

Vivendo a mentira que inventamos para nos confortar.

Só tem um problema, na verdade tem vários, com isso... mas, aqui, defendo que, quando você começa a tentar lidar com seus temores, mais perto da sua alma você chega, e assim, sua beleza vai ecoando e se multiplicando.

Quando você confronta a dor, você se aproxima da sua ALMA.

A alma que falo é a SUA verdade.

O que e quem você é.

(Alma no sentido desprovido de lugares semânticos construídos a partir de ideias teológicas ou espirituais...)

Sobre esse universo ao qual eu chamo de alma, acredito que acessá-lo por completo é uma utopia.

Chegar cada vez mais perto dele é o que muitos de nós passa a vida inteira tentando. Por meio de terapia, conversas, decisões, reflexões, hipnose, horóscopo e munidos de tantos outros recursos...

A verdade é que descobrir quem você realmente é, conhecer a sua alma, é um processo de reencontro e estranheza que será eterno, enquanto durar sua aqui vida na terra. Primeira reflexão: nada tem fim, tudo é processo.

Segunda reflexão a ser delineada: fugir da dor só vai torná-la mais pungente.

Tipo elefante branco na sala, todo decorado de fantasia de carnaval – os adornos vão ficando mais coloridos à medida que você tenta escapar dos seus fantasmas...

Claro, confrontar a dor é punk!

À estranheza a resposta é a repulsa. Ela dói. Ela te fere. É cortante... Te leva à lugares onde você não quer mais visitar. Você tem medo de voltar a ser daquele jeito. Só de pensar que viveu aquilo...

São as cicatrizes, não tão cicatrizadas assim... suas decepções, as vergonhas, seus erros, seus medos, suas frustrações.

Não é confortável. E você, nem sempre, está a fim de confrontá-la.

As vezes passamos uma vida inteira fugindo dos espaços escuros.

O que quero dizer é que não estamos, nunca, prontos.

Não existe fim.

O “felizes para sempre” é mentira mesmo quando é só você, plural ou singular.

Meu último post foi sobre a perceber-se só nessa vida. Quão duro e libertador isso é.

O de hoje é para dizer que nunca seremos ou estaremos completos. Nem mesmo quando nossa missão é entender que eu não preciso de ninguém para ser feliz.

Há 14 anos venho tentando lidar com uma história de relacionamento abusivo.

Na verdade, como defendi ali em cima, durante uma boa parte desse tempo eu vivi tentando fugir do buraco sombrio e mentindo pra mim mesma que eu já tinha superado isso.

Afinal, foram 8 anos de terapia!

Valha-me, Deus!

Há pouco, bem pouco, tempo fui tendo coragem de perceber que eu não tinha resolvido porcaria nenhuma e que meu último relacionamento teve muito reflexo dessa minha carência de lidar com essa dor. Daí comecei a cavar. Eu tentava lembrar como era a vida que eu tinha, quem eu era naquela época, as coisas que eu fazia e porque fiz certas escolhas.

Meu micro cosmo começou a emanar luz.

Foram dias, e noites, de falta de sono, de leitura e músicas no repeat.

Conversas mil, até culminar na ideia de gravar um episódio do nosso podcast, o @podcastdasroomies – segue a gente e escuta os detalhes da história lá, rs.

A gravação foi o auge de um processo de trocas de ideia e de muita pesquisa. Durou algumas semanas e eu fui tentando exercitar meus sentimentos e entendê-los.

Gravamos e, tanto a gravação quanto a reação das pessoas foram surpreendentes. Muitos relatos, palavras de apoio, pedido de ajuda, agradecimentos por ter compartilhado a minha história.

Na sequência, escrevi um poema intitulado “ENCONTREI A MINHA CHAVE E ELA NÃO MAIS GOTEJA SANGUE”, vou publicar aqui inclusive, logo mais.

O engraçado é que hoje, relendo-o, já penso totalmente diferente. Acho que a minha chave ainda goteja sangue. E talvez nunca pare.

Mas, minha tese, é a de que, uma vez que eu tinha feito toda essa caminhada de lidar com esse monstro que mora dentro de mim, pronto! Eu já o tinha resolvido isso aí, gente!

Eu era, agora, a resolvidona do rolê.

AHAHAHAHAHA

Que tonta, né, dá zero pra ela!

As if, até parece...

Percebi isso quando fui convidada por uma amiga a participar de uma live, e lá fui eu, toda gata desconstruída falar daquilo que eu já tinha, claramente, superado.

A live foi um sucesso – sorry, haters!

Mas o eco, aqui dentro, se instaurou.

Foram dias de mergulho no pânico e na dor novameeente.

Só que dessa vez, tive conexões que ainda não haviam sido feitas.

Releituras de outro ângulo.

Veio raiva, veio ódio, indignação.... junto de um monte de “porquês” como respostas...

Enfim, meu raciocínio aqui hoje é que só sei que nada sei, já disse Sócrates, certo, manas?!

Conclusão: não sou NADA desconstruída, sei ainda muito pouco sobre mim mesma, MAS quero, sim, me aproximar da minha alma cada vez mais.

Isso com certeza significa olhar para onde eu não quero. E quando, penso “isso eu já resolvi” é um alerta para olhar mais e cavar o que jaz debaixo dessa fala tão assertiva.

Lidar com os buracos escuros é preciso. Lançar luz nos lugares estrangeiros da nossa natureza é a única forma de chegar mais perto da sua alma e se aproximar do que alguns chamam de autoconhecimento. Mas só pude fazer isso quando me dei tempo e oportunidade para fazer esse tipo de exercício mental.

Ficar só, em silêncio, na minha companhia, fazendo o que gosto, descobrindo o que me dá prazer, tendo espaços em branco e chance de contemplação, como defende Byung, foi que pude desaprender a me reaprender. E entender que não, não estou bem resolvida e nem nunca serei, talvez.

Mas eu vou, sim, tentar chegar cada vez mais perto do meu mico universo, da minha alma, da minha luz, pois só assim irei crescer.

Um brinde à jornada, já que ela é, definitivamente, muito mais interessante do que o destino!


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