This too shall pass - isso também vai passar.
Hoje é sexta-feira. Estamos nessa nova ordem mundial de "tentativa" de isolamento social “em partes” desde segunda. A primeira semana “útil” que se finaliza.
Foi útil para você?
Quão útil?
Eu, na verdade, estive bastante desanimada...
Um tanto revoltada, como visto no último post.
Aqui, na minha, vendo toda a falta de conscientização das pessoas, gente indo à praia e passeando... sabe?! Eu fiquei muito puta da vida e bastante perdida. Passei a semana desorientada. Meio que sem rumo, sem saber como ocupar meu tempo de maneira produtiva e satisfatória. Não sabia em que dar prioridade, o que fazer primeiro: preparar aulas, estudar sobre ensino EAD, ler os livros que estão empilhados na cabeceira da cama, ver aquela lista de séries que nunca é colocada em dia, organizar as gavetas, arrumar os armários... Por onde começar? Ser produtiva ou ser entretida, eis a questão?!
Começava a fazer uma coisa e depois de poucos minutos minha atenção já desviava pra outro lugar: quando via estava lendo as últimas atualizações sobre a disseminação do COVID-19. E daí caía num buraco negro. Insegurança, medo, raiva, desespero, indignação... (aqueles sentimentos já elencados anteriormente).
Ontem foi feriado aqui - o que não fez muita diferença, já que estamos todos reclusos em casa. Mas tive a oportunidade de andar um pouco pelas ruas do bairro (já que não posso mais ir à academia...).
Fui andando e pensando que logo não poderei fazer mais isso.
Um mini-surto começou a ser desencadeado no meu peito: não vou mais sair de casa, ver o céu azul límpido e aberto. As folhas caídas no chão de qualquer jeito, o ônibus passando apressado, os pássaros pousados nos fios do circuito elétrico...
Daí quis tirar umas fotos.
Fotos do celular. Gravar em imagem os caminhos que sempre percorro, meio que para poder, depois, apreciar como é estar na rua, livre e solta. Perambular pelas calçadas e atravessar a rua. Arrancar uma flor selvagem e me sentir subversiva.
Atitudes infantis e tão singelas, rotineiras. Pequenos gestos desimportantes que agora pareciam ter um valor imenso.
Mas resolvi não. Não sacar o celular e congelar o momento em pixels e dados na memória do meu aparelho.
Decidi tirar umas 'mind pictures', ou fotos mentais, fiquei olhando os pequenos detalhes. Uma árvore de copa transbordante em flores vermelhas. O contraste das cores verde e carmim sob a luz do sol, que coisa linda!
O recorte do céu e o horizonte recortado por telhados, galhos, fios e antenas.
O relógio e o sino da igreja tocando o firmamento. Aquele céu azul que só se vê em Rio Preto.
As nuvens tomando formas imaginárias – lembrei da infância.
Um cacto ereto apontando pro alto e protegido de espinhos.
O jardim de uma casa com um gatinho deleitando-se na preguiça matutina e no calor do chão.
Aquela antiga casa que, quando criança, imaginava como seria morar ali. Sentar naquele alpendre pra bater papo no fim de tarde. Ou então, quem seria a família que ali residia. Como era a mãe e o pai? Eram felizes? Deveriam ser. Uma casa tão formosa como aquela deveria de abrigar uma família bem acolhedora...
Viajei nas minhas ideias... Eu tinha tempo. Não estava com pressa. Nem tinha hora ou compromisso – coisa rara na minha agenda.
Meu coração se encheu de paz. Sorri andando sozinha naquela rua deserta.
Pensei que nunca teria gravado essas imagens na minha memória se não fosse pela iminente falta de ver tudo aquilo de novo em breve.
Logo não poderemos nem ao menos sair de casa. Coisas simples que passam despercebidas na pressa da rotina parecem ter tanto valor agora...
Não poder sair, não poder ver pessoas, não poder tocar em alguém. Dar a mão, fazer carinho, dar um beijo, um abraço.
Já sinto TANTO a falta disso.
Quando visito meus pais, agora, mantenho distância. Fui visitar minhas sobrinhas e elas cantaram a musiquinha da Turma da Mônica que me partiu o coração: "sem abraço, sem beijinho, sem aperto de mão... Não é desprezo, é para a proteção!”
Claro que a razão entende e acha super fofo e coerente.
Mas, puts, o coração dói!
Depois disso, conversando por whatsapp com as minhas amigas, uma delas, que é uma fada sensata, disse algo muito real.
Sobre todo esse esforço de escolher a melhor medida para lidar com nosso novo contexto, sobre as dificuldades de tomar decisões sem saber o amanhã: ela desabafou, falando que estava num processo de aceitação, ela entendia que as coisas iriam dar super errado, mas que, depois, elas dariam certo!
Daí dariam errado de novo.
E depois dariam certo...
E poderiam dar errado novamente.
E é isso!
E não é que é?
A gente ainda tá COLETIVAMENTE perdido.
Os médicos estão exaustos e desesperados. Os governantes publicam novos decretos a cada 24hrs. Tudo muda em um só dia.
Nós, professores não sabemos como melhor transmitir os conteúdos pros alunos. Os órgãos de saúde não dão conta de lidar com a avalanche de novos casos e dados sobre a gripe.
Mas estamos tentando...
Daí me veio uns insights sobre o Budismo: as quatro nobres verdades. Elas começam, olha só, com o sofrimento!
Sobre o sofrimento, entendemos que existe três tipos: o sofrimento que se sobrepõe ao sofrimento, o sofrimento que tudo permeia e o sofrimento que vem com a mudança.
Numa análise superficial só no campo da semântica, dos sentidos as palavras, temos que uma das grandes verdades da vida é basicamente: O SOFRIMENTO!
E o que seria sofrimento aqui?
O nascimento é sofrimento, o envelhecimento é sofrimento, a enfermidade é sofrimento, a morte, a tristeza, a falta, a saudade, a fome... Parece que, em resumo, a vida é um sofrimento. Viver é sofrer.
E é.
E não é.
Porque parte das verdades também inclui a cessação e o caminho para a cessação do sofrimento. Ou seja, a superação do sofrimento é uma verdade da vida.
Uma das sabedorias é entender que a vida é feita de ciclos. Ou seja, tudo é impermanente. Nada é eterno. Os ciclos de tudo na Terra e no Universo passam pelas etapas de vida-morte-vida.
Sofrimento e dor são fatos e verdades, assim como são o prazer e a alegria. E nenhum deles será constante. Nada é eterno!
A dor é parte da vida assim como a felicidade o é. O problema reside em pensar que a felicidade deve ser o resultado da nossa busca terrena e, uma vez conquistada, teremos a plenitude de uma existência robusta.
Só que não, né?
Por mais que o mundo esteja girando em conformidade com o equilíbrio saudável da fertilidade absoluta, haverá dias nos quais você vai acordar e pensar: que porra é essa?
Mas, segredinho: só você pode mudar sua situação e como o mundo vibra.
Você é o responsável pelo modo com que enxerga tudo a sua volta.
Hoje estamos vivendo a dor, a aridez, a reclusão, a tristeza, a perda, a escassez.
Mas, te digo, tudo isso me fez aprender a valorizar um mundaréu de coisas...
Hoje eu percebi que quando puder abraçar meus pais não vou pensar duas vezes!
Quando tudo isso passar, vou pegar minhas sobrinhas no colo e apertar até quase esmagar!
Vou agarrar mxs amigxs até eles ficarem roxos (de vergonha!).
Vou beijar os crushes como se não houvesse amanhã.
Vou demonstrar meu amor pelos meus alunos com toques, com as mãos, com braços e abraços.
Vou olhar pelos caminhos e rotas e apreciar a beleza de estarem ali no lugarzinho deles.
Não serei a mesma.
Não seremos os mesmos.
Quando tudo passar.
This, too, shall pass.
Não sabemos os valores das coisas até perdê-las.
- Don´t know what you´ve got till it´s gone – já dizia Cinderella (a banda, não a da Disney, ok?!).
Escuta essa música aí. Vale a pena!
Tá aqui no post.
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