top of page
Buscar
Foto do escritorJuliana Tokita

Como sobreviver ao fim do mundo - Parte III - Reflexões de domingo

Domingo de manhã, 29/03, quarentena rolando - oficialmente - aqui desde 16/03. Já são 13 dias aprendendo a viver dentro de casa, longe das pessoas, interagindo virtualmente com o mundo, lidando com uma avalanche de informações e sentimentos - atualizados quase que instantaneamente - e tentando, mas nem sempre conseguindo, manter um certo equilíbrio mental.

Todas notícias de todos veículos midiáticos são sobre a pandemia. Ela é o único assunto das nossas conversas. É so

mente ela, unânime, reinando como temática absoluta no consciente coletivo. Um rastro sombrio de pânico pesa no ar.

Lidar com um futuro incerto, com protocolos de comportamentos e prevenções, com decretos e pronunciamentos, com pode isso e não pode aquilo, estando todos nós reclusos em casa, impotentes e frágeis, nutre, dentro do peito, uma série de sensações negativas. O mundo inteiro conectado por um pânico comum.

O pavor é universal e inquestionável. Está lá, estampado nos rostos no supermercado, nas fake news dos grupos de família, nas ruas vazias e na cidade silenciosa. O cenário apocalíptico tão reproduzido em filmes e séries nunca pareceu tão verídico.

E um aniversário de 38 anos no meio.

Esse não era para ser um post desanimador ou deprimente...

Talvez seja a chuva que cai lá fora ou a melancolia de um dia de domingo (apesar de parecer que todos os dias são domingos)...

Na verdade, quando sentei em frente ao meu notebook o plano era descrever a virada de ciclo de vida representada pela data do meu aniversário, mas fui tomada pelas palavras e por elas fui conduzida. Elas foram saindo na tentativa, desesperada, de "make sense", fazer sentido, sobre tudo o que está acontecendo.

Cada dia há uma novidade. A velocidade do fluxo de informações é tão rápida quanto a disseminação do vírus. Como a gente fica no meio disso?

Escolas vazias, casamentos desmarcados, eventos cancelados e um presidente querendo colocar o povo de volta nas ruas. Estamos "bewildered", perdidos, confusos e desnorteados.

Mas, pensando sobre o que escrevi no último post e também vendo as coisas na perspectiva metafórica de trocar de idade em meio à pandemia, ou seja, no - tão repetido por mim - ciclo de vida-morte-vida, pensemos, ou tentemos, ver o outro lado da moeda. O lado positivo que isso pode gerar na nossa vida e na nossa sociedade.

Eu tinha criado mil planos para o meu aniversário. Reunir amigos, minha família, fazer duas festas, ir por rolê... nada disso aconteceu. Fiquei em casa, pedi delivery e recebi vídeo-chamadas. Mais um dia típico na vida dos quarenteners. E foi lindo. E tudo bem. Terei outros aniversários e sei que deste nunca esquecerei.

Uma das coisas que tenho visto, e achado lindo, na quarentena é o fato de que ela está nos forçando a rever como vivemos em sociedade. Do micro para o macro.

No micro, o que tenho ouvido é que as pessoas estão tendo que olhar e conhecer melhor aqueles que vivem juntos debaixo do mesmo teto. Chega uma hora que não há Netflix que dê conta, concorda? Daí temos que usar a nossa criatividade e pensar em atividades que ocupam nosso tempo e nossa mente, além de agregar aqueles que estão ali confinados conosco.

Ouvi um relato, outro dia, de uma amiga dizendo que está precisando usar artifícios, jogo de dominó, baralho, essas coisas, para passar o tempo com os pais. Nessa reflexão, ela percebeu que não convivia com sua família, só viviam juntos dentro da mesma casa. Mas que por diversos motivos, um deles a política - óbvio -, eles evitavam certas conversas e isso fazia com que cada um vivesse a sua própria vida. Mesmo vivendo juntos, estamos separados.

Outra situação que estou achanado sensacional é a reconfiguração da vida de famílias com filhos pequenos e/ou adolescentes. Incrivelmente, os pais estão precisando ensinar, educar e passar tempo com seus filhos. Olha que maravilha!

E percebem - pasmem - que desafiador é instruir, entreter, ouvir, impor limites e conversar com uma criança. Uau!

As famílias também estão tendo que fazer faxinas nas suas próprias casas. Daí percebem que limpar uma casa de 3 quartos em um só dia dá um baita trabalhão. E que quem fazia isso antes era uma só pessoa - com certeza do gênero feminino - e que ganhava bem pouco, se for levar em consideração o cansaço que bate no fim dessa empreitada.

Outro aprendizado: precisamos "apertar os cintos", o que quer dizer gastar menos diante da iminente crise econômica. O que quer dizer repensar nosso padrão de consumo. O que quer dizer que não precisamos de tantos badulaques.

Quanto do que você compra nem chega a ser usado? Quanto do que se produz no mundo nunca é consumido? Quantas horas de trabalho de pessoas são necessárias para produzir coisas que nem serão utilizadas?

Agora pro macro.

Bom, lá fora a natureza respira.

Os animais correm soltos e livres, sem medo de serem caçados. As baleias nadam despreocupadas, explorando mares que já tinham excluído dos seus itinerários por causa da presença humana. Rios, oceanos e canais estão mais límpidos. Plantas e flores crescem obedecendo o fluxo de energia da natureza. O ar está mais puro devido à paralisação de muitas fábricas. O mundo respira.

Esse raciocínio é relevante para que sigamos firmes na luta que é viver e evoluir. Precisamos repensar para que, quando pudermos retomar nossas vidas, possamos conviver com nosso mundo de maneira diferente, de modo mais maduro e mais inteligente. Entendemos que o problema é justamente o modo com que interagimos com nosso planeta, nosso lar, nossa comunidade, nossa família e com nosso tempo. A nossa sociedade contemporânea, capitalista, exploradora, divida em classes e que visa gerar e acumular lucro construiu um cenário desastroso e angustiante. Não dá mais para viver assim. O modo de vida que pensamos ser "normal" é catastrófico.

Mas há esperança no ar.

Sempre há a possibilidade de renovação. Vamos nos refazer. Todos, juntos, aprendendo de novo a viver em sociedade. Vamos reconstruir o nosso modelo de vida. Deixemos para trás o que deu errado e que nos serviu de lição.

Precisamos mudar.

Olhar mais para dentro. Olhar mais para o outro. Estar de verdade em cada momento e em cada lugar. Valorizar o amor e o companheirismo. Admirar e cuidar da nossa casa. Viver bem e viver melhor.

Espero que sejam esses sejam os aprendizados que vamos levar dessa crise.

Um beijo no coração.



43 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Muda⠀ ⠀

Comments


Post: Blog2_Post
bottom of page