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Foto do escritorJuliana Tokita

Das faces da solidão


Da minha janela observo a ausência

O vento sacode as folhas da árvore que até então me era desconhecida.

A paisagem inerte, rua desabitada, espaço vazio, hiato, lacuna, buraco, falta, abstinência...

Fechada no meu círculo de proteção – aqui estou.

Enjaulada,

Como uma leoa presa em cativeiro

ando de um lado para o outro,

Entorpecida.

Busco um sei lá o que

Sabe-se lá onde.

Ocupo a cabeça um pouco.

Leio um pouco.

Durmo um pouco.

Qualquer distração que sublime o gosto amargo da solidão.

No meu cárcere privado

Reflito sobre os dias que já foram

E pondero, esperançosa, sobre aqueles que ainda virão.

Meu exercício de sobrevivência

É o refletir sobre a existência.

Pensar para continuar.

Meditar,

Ponderar,

Imaginar,

Desejar,

Pesar,

Lembrar, re-lembrar, rememorar,

Ruminar,

Evocar,

Curar,

Sarar...

E – de todas as etapas, a mais árdua dessa jornada, a mais penosa, sem dúvida: esperar...

Viver o hoje e não esperar o amanhã.

Resiliência é a palavra de ordem,

Tão repetitivamente clichê

Que o significado se evapora o deixando o esqueleto do seu significante exposto...

Carne crua,

O vazio dói.

Decido, então, de súbito...

Exílio: tu serás meu mestre!

No seu deserto hei de construir meu oásis.

Que o isolamento instrua minha alma inquieta!

Que em sua introversão eu aprenda sobre mim e sobre os outros.

Que eu seja menos fútil, não tão frívola, muito menos imediatista e pouco superficial.

Que possa degustar os momentos em grupo quando eles voltarem.

Que consiga amar sem o medo da recusa.

Que me entregue quando a correnteza dos seus beijos me guiarem pra perto de ti.

Não é o fim.

É só o começo.

Não é morte,

É recomeço.

Que a saudade alimente minha esperança.

Preencha meus vazios.

Que eu ouça o clamor da mãe terra!

E esteja comigo mesma

E renasça...

- A fênix se recolhe antes de alçar voo -

É sobre retroceder,

Ganhar espaço e tomar impulso

E depois lançar seu corpo liberto e libertino,

espontâneo,

indecoroso,

disponível,

natural,

e verdadeiro na imensidade do vasto espaço aberto.

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