Da minha janela observo a ausência
O vento sacode as folhas da árvore que até então me era desconhecida.
A paisagem inerte, rua desabitada, espaço vazio, hiato, lacuna, buraco, falta, abstinência...
Fechada no meu círculo de proteção – aqui estou.
Enjaulada,
Como uma leoa presa em cativeiro
ando de um lado para o outro,
Entorpecida.
Busco um sei lá o que
Sabe-se lá onde.
Ocupo a cabeça um pouco.
Leio um pouco.
Durmo um pouco.
Qualquer distração que sublime o gosto amargo da solidão.
No meu cárcere privado
Reflito sobre os dias que já foram
E pondero, esperançosa, sobre aqueles que ainda virão.
Meu exercício de sobrevivência
É o refletir sobre a existência.
Pensar para continuar.
Meditar,
Ponderar,
Imaginar,
Desejar,
Pesar,
Lembrar, re-lembrar, rememorar,
Ruminar,
Evocar,
Curar,
Sarar...
E – de todas as etapas, a mais árdua dessa jornada, a mais penosa, sem dúvida: esperar...
Viver o hoje e não esperar o amanhã.
Resiliência é a palavra de ordem,
Tão repetitivamente clichê
Que o significado se evapora o deixando o esqueleto do seu significante exposto...
Carne crua,
O vazio dói.
Decido, então, de súbito...
Exílio: tu serás meu mestre!
No seu deserto hei de construir meu oásis.
Que o isolamento instrua minha alma inquieta!
Que em sua introversão eu aprenda sobre mim e sobre os outros.
Que eu seja menos fútil, não tão frívola, muito menos imediatista e pouco superficial.
Que possa degustar os momentos em grupo quando eles voltarem.
Que consiga amar sem o medo da recusa.
Que me entregue quando a correnteza dos seus beijos me guiarem pra perto de ti.
Não é o fim.
É só o começo.
Não é morte,
É recomeço.
Que a saudade alimente minha esperança.
Preencha meus vazios.
Que eu ouça o clamor da mãe terra!
E esteja comigo mesma
E renasça...
- A fênix se recolhe antes de alçar voo -
É sobre retroceder,
Ganhar espaço e tomar impulso
E depois lançar seu corpo liberto e libertino,
espontâneo,
indecoroso,
disponível,
natural,
e verdadeiro na imensidade do vasto espaço aberto.
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