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Foto do escritorJuliana Tokita

Ressignificação




Minhas cores eram o preto no branco

Transitava entre o sim e o não - Não me dobrava.

Era radical, tinha minhas opiniões.

- Não quero ser do seu jeito, minha construção foi árdua, só eu sei o que vivi -

Sabia quem era e não desejava mudar.

Na direção vertical seguia meu caminho linear, aprumado e endurecido.

Velejava num mar rígido, rijo, tenso, teso.

Caía, levantava, sacudia a poeira e seguia

Sem olhar pra trás.

Sempre em frente.

Mas não re-pensava.

Não ressignificava.

Não me ressentia.

Não me re-lacio-nava.

Vivia na batida comfortably numb.

Anestesiada pela rotina.

Até que tudo foi ficando ensosso, insípido, sem graça, fatigante, sufocante.

Voltei pra dentro e devagar fui caminhando naqueles desconhecidos lugares.

Espaços escuros

Casa do dissabor.

Nas minhas trevas viajei e percorri o penoso caminho da revelação.

Dias de lágrimas abriram janelas para a alvorada consciente.

Se antes era dura, hoje sou macia.

Se fui inflexível, hoje me dobro.

Me ajusto e me moldo ao tempo, aos contextos, aos abraços e aos momentos.

Não me importo se demora, há paciência em mim.

Hoje desenrolo nós com graça de movimentos.

Vou seguindo furtivamente e me deixando levar na mansa maré de seus dias.

Levemente me despeço da dureza de ser ou não ser.

Sou cinquenta tons de cinza e posso querer não ser também.

Vou seguindo a leve dança de aprender a reaprender a viver.

Flertando com os dias e brincando de olhares.

Vou vivendo minha vida num bailar de possibilidades.

Vou ser feliz com o que tenho, seja bem-vindo, sente-se, puxe uma cadeira, vamos conversar.

Qual é seu sonho?

O que te move?

Me conte tudo, sou curiosa.

Há tempo pra nós dois.

Segure a minha mão,

Estou aqui por você,

O mundo é lindo, vem ver.

Estou aqui, já te disse...

Você só precisa se entregar...

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